PRÓLOGO PROLIXO, EPÍLOGO PAUPÉRRIMO

Decumbente, o senil e decrépito varão suportava a canícula do estio, destra sob o mento, estático como uma esfinge, nem reunia forças para locomover-se até a sombra de secular baobá providencialmente localizado em seu derredor, próximo a um arroio, cujo murmurinho sedento ouvia. Pressentia o seu prestes desenlace, o abandono da carcaça exaurida e o célere adentramento no éden da sua alma cândida e angélica, já que a sua consciência era imaculada.
Sua vida nômade comparava-se à de um barco à deriva e lhe dava a sensação de liberdade plena, mas agora, macróbio e sem asilo, via no sedentarismo que sempre desdenhou a vida ideal.

Nem o eflúvio ou a brisa que esporadicamente provinha das cercanias tirava-o do marasmo e da absorção envolventes.

Eis que, abruptamente, de um carrascal adjacente ouviu o matraquear estridente das fortes mandíbulas de uma vara de queixadas vinda em sua direção com o ímpeto e a ferocidade peculiares à espécie.

Do torpor que antes o dominava ressurge num átimo o intrépido mancebo de outrora, galgando lépido frondosa árvore que se lhe depara a poucas braças e queda-se medroso até passar o turbilhão ameaçador…

Moral da história: A luta pela sobrevivência é um dom divino.